Salmo 48 - O Exército de Um Só Soldado.
Uma das grandes diversões do brasileiro – e de pessoas de
muitos países ao redor do mundo – é o futebol. Um dos pontos positivos do
futebol que o faz tão aceito em todo mundo é o fato de ser bem flexível: pode
ser jogado tanto em um campo especialmente preparado, com dois times de onze
jogadores vestidos com uniformes próprios para o jogo, como pode ser jogado no
meio da rua por meninos descalços que chutam uma bola de meia para dentro de um
espaço demarcado por dois chinelos velhos.
Eu mesmo já fui adepto desse esporte em uma versão
intermediária entre o sofisticado e o rústico: o futebol em quadras disputado
por times de garotos “com” e “sem” camisa. Certa vez, em um grupo de meninos
que formavam oito times, joguei contra uma equipe que, em menos de dois
minutos, vencia e tirava o adversário. Isso era chato, pois eu jogava dois
minutos e tinha de esperar mais seis times jogarem. Alguns times eram vencidos
em menos de um minuto. Isso aconteceu à noite toda, até que, formando um tipo
de “seleção”, reunimos os melhores jogadores dos “times-de-fora” para conseguir
vencer aquele oponente tão duro e normalizar as partidas. Somente um tipo de dream
team conseguiu salvar nossa noite de diversão.
O escritor do Salmo 48 testemunhou algo parecido, mas não
no campo esportivo e, sim, no militar. O contexto parece nos levar a Judá, com
sua capital, Jerusalém, liberta de uma coligação militar entre nações agressoras.
Ao que tudo indica, houve uma virada no cenário das batalhas, pela mão
protetora do Senhor, e o exército estrangeiro teve de bater em retirada. O
resultado é que os israelitas não apenas comemoraram o desfecho vantajoso, como
olharam para Deus como o responsável pela bênção.
Diante de tal realidade, não haveria melhor modo de
iniciar o salmo do que dizendo (v.1): “O Senhor é grande e digno de louvor na
cidade do nosso Deus, seu monte santo” (gadôl yehwâ ûmehullal me’od be‘îr
’elohênû har-qadshô). A “cidade do nosso Deus” é o mesmo lugar citado no v.2
como “monte Sião” (har-tsiyyôn) e “cidade do grande rei” (qiryat melek rav).
Trata-se de Jerusalém, capital de Israel no tempo do reino unido sob as
lideranças de Davi e de Salomão e, também, capital de Judá (reino do Sul),
quando Israel foi divido em dois reinos (931 a.C.). Tal cidade foi protegida
pelo Senhor de um ataque estrangeiro. Por isso, o salmista associa Deus com uma
cidadela, uma fortaleza no interior de uma cidade fortificada que servia de refúgio
quando as muralhas eram invadidas (v.3): “Deus, nos palácios dela, se faz
conhecer como um refúgio no alto da cidade” (’elohîm be’armenôteiha nôda‘ lemisgav).
O resultado da proteção de Deus pode ser visto entre os vv.4-8.
Em primeiro lugar (v.4), “os reis se reuniram e juntos partiram” (hammelakîm
nô‘adû ‘avrû yahdaw). Percebendo que não eram páreo para o Senhor, os exércitos
agressores desistiram da campanha militar e retornaram às suas terras. A
proteção de Deus à sua cidade e ao seu povo foi superior ao poderio militar da
liga de nações que declarou guerra a Judá. E, segundo expressa o salmista, tal
retirada não foi tranquila, mas se deu às pressas, de modo que percebemos, pelo
texto, as nações em fuga (v.5): “Assim que elas viram a situação, se desconcertaram,
ficaram aterrorizadas e fugiram apressadamente” (hemmâ ra’û ken tamahû nivhalû
nehpazû).
O motivo da fuga desenfreada foi, em primeiro lugar (v.6),
que “o tremor ali os tomou” (re‘adâ ’ahazatam sham) e, ainda, porque tiveram
grandes prejuízos (v.7): “Com um vento oriental ele destroçou os navios de
Társis” (berûah qadîm teshavver ’oniyyôt tarshîsh). Antes que haja má
compreensão, deve ser dito que não houve uma batalha naval. Aqui, o salmista
fala de forma figurada, utilizando a ideia do naufrágio de navios vindos de
Társis com grandes somas monetárias, a fim de representar as perdas que teve a
coligação militar que atacou Judá – Társis era um local distante no litoral do
mar Mediterrâneo (Jn 1.3; Sl 72.10; Is 23.6), possivelmente na Espanha, que era
fonte de grandes riquezas, dentre elas metais preciosos como ouro e prata (1Rs
10.22; Is 60.9). Assim, os inimigos foram derrotados e fugiram com grandes
perdas. Quanto a Jerusalém, foi protegida de forma espetacular, visto que (v.8)
“Deus a estabelece para sempre” (’elohîm yekôneneha ‘ad-‘ôlam).
Este é o contexto em que o salmo foi escrito: o medo dos
moradores de Jerusalém, diante de um forte ataque estrangeiro, cede lugar à
exultação devido à incrível libertação vinda do Senhor. É claro que não há como
ficar indiferente diante de uma situação como essa. Por isso, vemos que a
atuação de Deus na proteção do seu povo produziu três reações nos seus servos,
reações estas que costumam – e devem mesmo – se repetir em situações parecidas.
A primeira reação é contemplar a fidelidade de Deus. O
salmista declara ao Senhor (v.9): “Meditamos, ó Deus, sobre a tua fidelidade no
interior do teu Templo” (dimmînû ’elohîm hasdeka beqerev hêkaleka). A demonstração
da fidelidade do Senhor que, indubitavelmente, já era conhecida do salmista em
termos conceituais, leva-o a uma ação que ele chama de “meditação”. Longe de
ter qualquer nuança transcendental moderna, trata-se de um ato em um contexto
cultual, já que há a menção ao interior do Templo, representando os sacrifícios
e ofertas feitas a Deus nesse local. Assim, a reflexão sobre a fidelidade do
Senhor para com seu povo deve levar seus servos à reverente contemplação do
Senhor, que, por sua vez, deve conduzi-lo à adoração pública e ao desejo de um
conhecimento amplo e de um relacionamento pessoal.
A segunda reação é louvar a Deus por sua justiça. Segundo
o escritor do salmo (v.10), “o teu louvor vai até os confins da Terra” (tehillateka
‘al-qatswê-’erets). Isso não acontece sem motivo. A razão para tanto é que,
agindo Deus, “a tua mão direita é plena de justiça” (tsedeq mol’â yemîneka). Ao
dizer “mão direita”, o escritor se refere não a um órgão anatômico, mas à
atuação de Deus. O que ele quer dizer, de fato, é que tudo que o Senhor faz é
justo e isso se dá por todo o mundo. A consequência natural é a constatação do
louvor motivado pela justiça divina por parte dos seus beneficiários (v.11): “O
monte Sião se alegra; as filhas de Judá rejubilam por causa das tuas justas
decisões” (yismah har-tsiyyôn tagelenâ benôt yehûdâ lema‘an mishpateika).
E a terceira reação, por parte dos servos de Deus, é dar
testemunho da grandeza de Deus. O salmista, então, convida os moradores de
Jerusalém para fazer uma revista na cidade. Ele diz (v.12): “Rodeiem Sião” (sobû
tsiyyôn). A razão é fazer um tipo de inventário (vv.12,13): “Contem as suas
torres; prestem atenção na sua muralha; examinem o seu refúgio no alto da
cidade” (sifrû migdaleiha shîtû livvekem lehêlâ passegû ’armenôteiha). Como não
se sabe exatamente a época da composição do salmo, também é impossível saber as
condições das fortificações de Jerusalém. Assim, dentre duas possibilidades, o
salmista quer que tal inventário seja feito ou para notar o modo pelo qual o Senhor
fortificou a cidade para protegê-la, ou para que se note que, apesar de fracas
instalações, a libertação aconteceu – sem dúvida – pelas mãos do Senhor. A
intenção é bem definida (vv.13,14): “A fim de relatar à geração seguinte que
este é Deus, o nosso Deus eterno” (lema‘an tesafferû ledôr ’aharôn kî zeh
’elohîm ’elohênû ‘ôlam).
O Senhor protegeu Israel e o livrou de exércitos
poderosos. Não é sem razão que é chamado, no v.8, de “Senhor dos exércitos” (yehwâ
tseva’ôt). Entretanto, diferente da liga militar formada para combater Judá,
com seus numerosos regimentos, o Senhor forma um exército de um só soldado que,
contudo, prevalece contra tudo e contra todos. Ninguém tem mais motivos que
seus servos para se alegrar e render a ele culto. O Senhor Todo-poderoso, em
quem confiam seus servos, é um dream team de uma pessoa só. Louvemos e
anunciemos pelo mundo o seu santo nome!
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